...um outro abril - parte III


Há cinco anos, fui eu quem atendeu o telefone ao Tiago... – que merda! – “tem calma nós vamos já para aí!”

Horas e horas depois no amadora Sintra, fica, hoje, a saudade de um sorriso tranquilo, a brincadeira de criança que deixou uma marca própria nele e que, todos os anos, era recordada nos almoços ou jantares de família...

Era o mais discreto deles todos mas, como todos eles, tinha pelos que lhe rodeavam, um amor tão grande, tão puro e cheio de carinho que não deixava ninguém indiferente.

A imagem da revolta eu sinto-a ainda hoje – todos os dias – no Tiago e, estar com ele, é como estar uma vez mais com o Manel.

Antes do “Tiagão” chegar era eu quem fazia as vezes e ocupava o quarto destinado ao filho lá de casa e, como já disse, melhor do que te ruma família como a minha, era ter duas.
A voz do Manel ainda soa e ressoa no meu peito e, quando, no meio de todo o inesperado, tratei de tudo o que era preciso para as “honras”, ir e vir a Fajão dar a notícia a uma mãe – À minha avó – só dei conta do que tinha realmente acontecido a caminho do cemitério... e tive que encostar a carrinha... nunca tive uma dor tão grande dentro do meu peito. Não me lembro do tempo que fiquei encostado, mas, hoje, prefiro recordar aquele sorriso ingénuo, o seu sentido altruísta e de uma pureza interior impossível de descrever...

Tenho saudades...

Passados cinco anos, continua como se tivesse sido ontem, e as saudades não decrescem...

Se há pessoas que vão antes de tempo... o Manel foi seguramente um deles.

É nestas alturas que eu gosto de me fazer acreditar que isto não fica assim e prefiro acreditar que, de uma forma qualquer, a vida é feita de um material renovável, reeditável, reutilizável, porque, pura e simplesmente, não faz sentido este tipo de.. desperdício!

Tenho saudades... e, se há pessoas que deixam marcas, o tipo de legado que fica é muito mais do que uma marca...


Tenho saudades!

1 comentários:

carlos disse...

este é um mês que não é fácil.

por muitos que disfarcemos e digamos que as datas são apenas isso.

a verdade é que algumas datas cortam fundo.
a doer.
muito.

 
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